Rio Jacuí, berço da civilização cachoeirense há mais de 250 anos, com a chegada de militares do império português e fortificação às suas margens
Ele está ali, bem ao lado da cidade que ajudou a criar e batizar. Foi graças a uma pequena queda d’água existente onde hoje fica a Ponte-barragem do Fandango que a vila, ao separar-se de Rio Pardo, recebeu o nome de São João da Cachoeira. Mais tarde, quando já elevada em categoria, a denominação oficial passou para Cachoeira do Sul, que entre seus títulos traz o de Princesa do Jacuí. Apesar dessa forte ligação, o rio ainda é um ilustre desconhecido para grande parte da população.
Com exceção da ponte, da Praia Nova e do porto, mais próximos à área urbana, além do Balneário do São Lourenço, pouca gente conhece as belezas que o Rio Jacuí apresenta. Um belo exemplo é o Paredão, um barranco de argila com vários metros de altura localizado em uma de suas curvas, a menos de uma hora de barco do Passo do Seringa. Na outra margem, uma pequena extensão de areia dá um contraste todo especial à paisagem, colorindo ainda mais o quadro - que só pode ser apreciado na sua totalidade do leito do rio.
Num passeio pelas águas barrentas do Jacuí também dá para se surpreender com a preservação da mata ciliar, composta por espécies vegetais de diversos tipos e tamanhos, esbanjando uma quase infinidade de nuanças de verde. Mesmo assim, é impressionante a erosão do rio nos barrancos, arrastando árvores inteiras para o seu leito. Por isso, quem se lança nessa aventura pelo rio tem que ter muito cuidado, seguindo a sinalização, que a montante da ponte é feita com garrafas plásticas pelo pessoal que trabalha na extração de areia.
O número de dragas aumenta a jusante do trecho cachoeirense, onde também cresce a quantidade de pescadores - seja instalados num ponto qualquer da margem ou em frágeis canoas de madeira, às vezes movidas a gás de cozinha. Nessa parte, que é a mais conhecida, por causa da proximidade com a zona urbana, está a raia de treinos da equipe de remo do Grêmio Náutico Tamandaré e os terminais desativados dos complexos da Cesa e da Centralsul - este último agora ocupado pela Granol.
Um passeio pelo Jacuí, para ser bem aproveitado, tem que ser feito com tempo. Assim, pode-se notar detalhes que uma passagem mais rápida impediria que fossem vistos. Uma navegação tranqüila também ajuda na prevenção de acidentes, principalmente envolvendo tocos submersos ou bancos de areia. Daí a necessidade de contar com alguém experiente, que conheça o leito do rio, como é o caso de pescadores profissionais ou integrantes do Clube de Caça e Pesca. A segurança é fundamental - coletes salva-vidas não podem ser esquecidos em hipótese nenhuma.
Em meados do século 18, teve início, por índios e portugueses, a povoação do Passo do Fandango - nome de uma cachoeira que existia no Rio Jacuí. No ano de 1760, quando o núcleo era chamado Povo Novo, foi autorizada a construção de uma capela, filial da freguesia de Rio Pardo, e padres jesuítas chegaram no norte do estado. Rapidamente aumentou o número de ranchos e casas, até que, em 1819, D. João VI, por alvará, resolve criar a Vila Nova de São João da Cachoeira, que crescia graças principalmente à pecuária. Mais tarde, a denominação passou para Cachoeira e, no século 20, para Cachoeira do Sul.
O rio e sua gente: cachoeirenses mantêm estreita relação com o manancial que lhe deu origem