Parboilizado é o futuro do cereal mais consumido na mesa do brasileiro
O arroz, principal produto da cadeia produtiva cachoeirense, também sente com força os efeitos negativos da desvalorização do dólar e da elevada carga tributária. Este cenário, porém, não impediu que um dos maiores empresários do setor de beneficiamento de arroz no Brasil, Alfredo Treichel, resolvesse novamente arriscar e ampliar a produção de arroz parboilizado. “Eu gosto é de investir no momento de crise”, declara o proprietário do Engenho Treichel, uma das maiores indústrias do setor orizícola do estado.
Para continuar crescendo em meio O produto foi ganhando espaço no mercado e na mesa do consumidor por oferecer algumas vantagens em relação ao arroz convencional. Treichel chegou a lembrar que o movimento feminista, que vem ajudando a mulher a alcançar conquistas importantes, especialmente no mercado de trabalho, acabou abrindo mercado ao produto mais elaborado. Treichel teria todos os motivos do mundo para detonar as feministas, pois com a mulher fora de casa, mostram as estatísticas, o número médio de refeições domésticas no país vem caindo e, conseqüentemente, o consumo de produtos típicos do prato do brasileiro, como o arroz.
O empresário explica que a mulher que trabalha chega em casa à noite e, geralmente, não vai para a beira do fogão. Portanto o jantar, que antes fazia parte do cardápio diário da família, acabou sendo substituído por alimentos alternativos, geralmente lanches. Para tentar recuperar o terreno perdido, explica o dono do Engenho Treichel, a saída é tornar o arroz um produto menos perecível. “O parboilizado atende as necessidades da mulher moderna, pois o arroz que sobra do almoço pode ser consumido na janta como se tivesse sido feito na hora”, detalhou.
Para atender a um mercado que se torna cada vez mais interessante, o Engenho Treichel decidiu ampliar até 2008 sua capacidade de produção de parboilizado. Com os novos equipamentos adquiridos pela indústria, a produção passará de cinco toneladas/hora para oito toneladas/ hora. Mesmo com o cenário desfavorável, Treichel não quer perder tempo para conquistar essa fatia de mercado, que pode fazer a diferença no futuro, que tende a ser mais promissor que o presente, profetiza o empresário do arroz parboilizado.
Para dotar a indústria com novos equipamentos, capazes de aumentar a produção diária de arroz parboilizado, o Engenho Treichel fez um investimento superior a meio milhão de reais. Foram adquiridos um secador leitofluidizado (que seca o grão de forma mais uniforme, conferindo- lhe uma coloração padronizada), um novo autoclave e mais um conjunto de secadores contínuos.
O que atrapalha a indústria do arroz
Análise de mercado do industrial Alfredo Treichel
A elevada carga de tributos que recai sobre a produção primária brasileira se reflete sobre a orizicultura. A concorrência é desleal mesmo dentro do país. Para se ter idéia, o ICMS sobre o arroz gaúcho é de 12%, enquanto em São Paulo a alíquota não passa de 7%. O arroz que chega de fora recebe uma incidência menor ainda do imposto, de 5%. O estado possui as cargas tributárias mais elevadas do país. Por isso, nem mesmo os sete milhões de toneladas, que o colocam como primeiro produtor de arroz nacional, são suficientes para compensar prejuízos. Atualmente entra arroz no país até do Suriname.
A desvalorização da moeda americana frente ao real nunca foi tão grande. Com o dólar chegando a menos de R$ 1,70, o investimento no setor orizícola fica ainda mais prejudicado. Com isso, a tonelada do produto em casca no cenário internacional oscila na casa dos oito dólares, ou seja, não passa dos R$ 16,00, patamar que é insuficiente para cobrir os altos custos de produção. “Pior do que está não vai ficar”, acredita Treichel, que desconfia que o Governo vai interferir no câmbio, revitalizando o dólar e salvando muitas empresas exportadoras. O dólar em baixa favorece também a concentração do setor. No momento, não mais que 11 empresas controlam 30% da produção de arroz no Rio Grande do Sul.
O Governo prefere investir em programa assistencialista para manter os trabalhadores em casa, fazendo filhos, do que apostar em qualificação da mão-de-obra, reclamou o empresário, criticando programas do tipo Bolsa Família. Treichel disse que necessitou de serviços mais qualificados de pedreiro e não encontrou profissional capacitado. “No entanto, se você vai nessas canchas de bocha encontra um grande número de pessoas desocupadas, reclamando que não têm emprego”, constatou o empresário. O Governo deveria se preocupar em preparar mão-de-obra para o mercado ao invés de financiar o ócio, completou.
O empresário do arroz reclamou também que empresas como a dele, que investem na qualificação da mão-de-obra, acabam prejudicadas por aproveitadores, que acabam recrutando os trabalhadores preparados por pouco mais de nada. “A gente investe em qualificação e aí eles - os oportunistas - vêm e oferecem R$ 10,00 a R$ 15,00 a mais e levam os funcionários”.
Treichel lembrou que em 1981 havia 59 engenhos de arroz em Cachoeira do Sul, que beneficiavam 1.621 sacas de arroz de 50 quilos por hora, e hoje restam apenas quatro. No Rio Grande do Sul, há 15 anos, havia 714 engenhos e no momento não passam de 180. Em 1992 foram encontradas 803 empresas do setor orizícola no estado, mas dessas, 501 já encontravam- se inativas e apenas 302 operavam efetivamente.