Cachoeira do Sul caminha para frente, ainda que a passos lentos, para fazer a sua parte na luta por mudar o mundo a partir dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, conjunto de metas e indicadores estabelecidos pela Organização das Nações Unidas para serem alcançados até 2015 por 191 países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Uma pesquisa inédita no Brasil, feita pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) e Fórum RS, revela que nos últimos anos a cidade regrediu no controle da Aids e dos casos de mortalidade materna, infantil e de crianças menores de 5 anos. O município precisa também dar mais atenção e oportunidades para que as mulheres cheguem em maior número à universidade.
O desempenho de Cachoeira na radiografia que mostra como está a evolução das metas da ONU no estado deve servir de alerta às autoridades e entidades locais. Segundo o Fórum RS e a própria ONU, 70% dos Objetivos do Milênio dependem exclusivamente de ações das prefeituras e entidades assistenciais para serem alcançados. A ideia é justamente chamar a atenção das comunidades para que seja possível reverter os indicadores nos próximos oito anos. Segundo entendimento do Fórum RS, todos os índices e taxas podem perfeitamente melhorar ou piorar até 2015, dependendo unicamente dos próprios municípios.
E Cachoeira precisa correr. Dos oito macro objetivos, 18 metas e 48 indicadores que integram os Objetivos do Milênio, a FEE criou 18 indicadores para avaliar os municípios gaúchos. Destes, apenas dois já foram superados pela cidade. Cinco precisam manter o mesmo desempenho para superar a meta, outros cinco estão avançando lentamente e seis estão regredindo. Os indicadores classificados como avanço lento e nenhuma mudança ou mudança negativa não serão superados se mantiverem o atual desempenho.
É o caso de cinco dos sete itens relacionados à área da saúde. O estudo mostra que entre 1991 e 2005 as taxas de mortalidade infantil, materna e de menores de 5 anos e as de incidência de Aids por município e entre mulheres com idades entre 15 e 24 anos pioraram. A evolução da taxa de mortalidade materna chega a ser assustadora: passa de zero por 100 mil habitantes em 1991 para 64,5 por 100 mil habitantes em 95, volta a cair para zero em 2000 e explode para 166,0 por 100 mil em 2005. Já a incidência de Aids no município sobe de 6,7 por 100 mil habitantes no começo dos anos 90 para 32,5 em 2005.
A diferença entre homens e mulheres é outro gargalo que desafiará Cachoeira até 2015. Um dos macro-objetivos da ONU é promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres, e a cidade que tem um núcleo feminista forte ainda precisa terminar a lição de casa. As mulheres estão conquistando mais espaço no Legislativo, nos ensinos fundamental e médio e inclusive no total de assalariados, mas precisam aumentar a participação no ensino superior. Embora a razão entre mulheres e homens na faculdade tenha subido de 1,219 para 1,637 entre 1991 e 2000, a FEE considera ainda muito pouco.
Se por um lado Cachoeira do Sul precisa melhorar com urgência o controle da Aids e mortalidade infantil, materna e de crianças com até 5 anos, por outro está evoluindo bem na missão de reduzir o número de cidadãos miseráveis, aqueles que sobrevivem com até meio salário mínimo por mês (R$ 190,00) e estão abaixo da linha da pobreza. Segundo a pesquisa da FEE, a proporção dos indivíduos em situação de miserabilidade caiu de 36,1 em 1991 para 24,1 em 2000. Se mantiver esse ritmo, Cachoeira irá superar a meta da ONU, que é reduzir pela metade, entre 91 e 2015, a proporção da população com renda inferior a um dólar por dia.
O indicador, conforme os pesquisadores, reflete diretamente na qualidade de vida e no consumo da população. Nesse indicador, Cachoeira e a média geral do Rio Grande do Sul já acompanham a mudança que acontece em pelo menos 43 países, cujos povos somam 60% da população mundial. Todavia, ainda há muito a ser feito, pois 1,2 bilhão de pessoas no mundo sobrevive com menos do que o equivalente a um dólar. São pessoas que ganham quase nada e que, por falta de emprego e de renda, não consomem e passam fome.
Outro indicador que, se mantiver a mesma evolução, será alcançado pelo município é o de não-escolarizados no ensino fundamental com idades entre 7 e 14 anos. O percentual caiu de 9,5 em 1991 para quatro em 2000. Já o de não-alfabetizados na faixa etária de 15 a 24 anos caiu de 4,4 em 91 para 1,8 nove anos depois.