Índice superou 100% de valorização, segundo o Incra
Ovalor das terras destinadas ao cultivo de soja em Cachoeira do Sul mais do que dobrou nos últimos dois anos. A cotação referencial média do hectare de terra nua (VTN) para a oleaginosa de média produtividade no município, estimado em R$ 53.272,20 em 2022, subiu 104% em 2023, segundo o Relatório de Análise de Mercados de Terras (Ramt) no Rio Grande do Sul, divulgado nesta semana pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A valorização tem sido contínua, uma vez que entre 2017 e 2020, para essa mesma referência, o VTN havia subido 67%.
A região de Cachoeira tem o 11º maior valor da terra nua do estado, para soja, entre os municípios e regiões pesquisados. Entre 2017 e 2020, era a nona, mas os critérios de avaliação mudaram, então o comparativo fica prejudicado. Cachoeira consolidou-se como uma das grandes áreas semeadas de soja no Rio Grande do Sul, figurando entre as cinco maiores, e isso alavancou a valorização deste perfil de terras. Foram analisados mais de 100 exemplos de ofertas e negócios. A grande demanda por arrendamentos – entre 10 e 12 sacas de soja por hectare – e o fato de um agricultor vender um hectare no norte gaúcho e poder comprar de três a quatro em Cachoeira e arredores, também aqueceu o mercado de imóveis rurais.
PECUÁRIA DE CORTE
Em segundo lugar, na região, ficou a valorização da pecuária de corte, e isso está também diretamente associado à sojicultura. O sistema agropecuário está integrado, principalmente, pela formação de pastagens com azevém para dar suporte à bovinocultura de corte, em Cachoeira e região, em ciclo contrário à produção de soja. Em boa parte destes casos, portanto, ou o proprietário planta soja e inverna gado, ou o arrendatário cultiva a soja e entrega o campo semeado de pastagens para o dono da propriedade invernar diretamente, por parceria ou por outro contrato de arrendamento.
PARA O ALTO
Valor por hectare de terras de soja em Cachoeira do Sul
Fonte: Incra/Mapa/Banco Central
Várzea para arroz não valorizou tanto
A cultura que dá título simbólico de Capital Nacional para Cachoeira, o arroz, consolidada há mais de 120 anos na região, não valorizou tanto quanto os mais recentes investimentos em soja, que têm menos de 25 anos, mas alavancam o agronegócio e a economia regional. Como não houve o cálculo específico para o valor da terra de arroz em território cachoeirense no estudo 2017-2020, e apenas consta do novo relatório, é preciso buscar a média regional para traçar um comparativo.
Neste aspecto, a valorização no período 2020-2022 chegou a 58%, ou seja, pouco mais da metade dos 104% das terras de soja. A média do Valor da Terra Nua (VTN) para áreas de arroz com disponibilidade de água (rios, barragens, lagos, etc...) passou de R$ 17.021,00 para R$ 27.005,72 por hectare, mas com limite inferior de R$ 22.954,86 e superior de R$ 31.056,58. O valor do arroz também não subiu tão substancialmente quanto o da soja no período.
PASTAGENS
Em 2020, o Incra divulgou o valor referencial das terras de pastagem de alto suporte no município, o que não foi considerado nesta etapa, uma vez que as pastagens passaram a ser associadas com áreas de soja. Em 2019, as áreas agrícolas relativas aos cultivos de arroz irrigado eram 20% menos valorizadas que aquelas destinadas ao cultivo de soja de média produtividade. Hoje, são 45% menos valorizadas.
PERFIL
Valor das terras cachoeirenses em 2023
Fonte: Incra
Clima eleitoral atrapalhou o mercado
O valor das terras, de maneira geral, teve uma queda no final de 2022 como reflexo das eleições e da insegurança gerada no campo e no meio econômico. Investidores ligados ao agronegócio, no Rio Grande do Sul, ficaram reticentes em realizar investimentos. Somente a partir do segundo trimestre de 2023 as cotações começaram a se elevar, acompanhando uma tendência de movimentação comercial da safra. A estiagem também teve impacto nas cotações.
Considerada a principal cultura agrícola do Brasil, a soja está sempre bem cotada no mercado, proporcionando renda aos agricultores, mesmo com a forte alta dos custos e uma recente desvalorização por causa da concentração da oferta global pela safra brasileira. Em 2023, a saca de 60 quilos chegou a ser negociada a R$ 146,00 em Cachoeira.
PRESSÃO PARA BAIXO
A valorização da terra, nos últimos anos, é uma consequência da alta disparada das cotações da oleaginosa, pois a expansão da lavoura esbarra na falta de área em várias regiões do estado. Desta forma, as terras produtoras são disputadas, elevando o seu valor. Para 2024, porém, os preços estão pressionados para baixo porque, embora no Rio Grande do Sul a estiagem tenha causado perdas significativas, o Brasil está colhendo uma de suas maiores safras da oleaginosa.
RANKING
Valor das terras de soja em 2023
Município - Valor hectare
1º Passo Fundo - R$ 152.635,66
2º Erechim - R$ 147,830,83
3º Palmeira das Missões - R$ 144.074,24
4º Cruz Alta - R$ 133.803,14
5º Lagoa Vermelha - R$ 86.086,90
6º Santo Ângelo - R$ 83.560,84
7º Casca - R$ 71.128,20
8º São Luiz Gonzaga - R$ 67.717.28
9º Agudo - R$ 65.885,95
10º Rio Pardo - R$ 60.768.02
11º Cachoeira do Sul - R$ 53.272,20
12º Santa Maria - R$ 48.880,42
Valor de mercado depende da região
O estudo do Incra mostra que o mercado de terras no Rio Grande do Sul é extremamente diversificado, sendo que as mudanças regionais não são marcadas apenas pelas diferenças de aptidões das terras, ou suas classes de uso do solo, mas também pela estrutura fundiária e pela cultura dos povos ocupantes das propriedades rurais. Todo este contexto influencia diretamente na dinâmica agropecuária dos mercados. Como exemplo é citada a metade sul, que tradicionalmente foi dentro da sua história uma região mais pecuarista e orizícola, quando comparada à região norte do estado, com perfil de agricultores granjeiros.